terça-feira, 29 de abril de 2008

sem off

estamos em tempo de andar por perto de quem não usa repelente. assim mesmo, cheio de trocadilhos. gente que não repele a dengue (até porque acabamos sendo protegidos) e gente que não repele gente (porque também, assim, estamos protegidos).
pelo menos eu espero que seja mais ou menos assim.

domingo, 27 de abril de 2008

confissão

Chegou a hora. Eu já vivo em mim há muitos anos, e chegou a tal hora. Eu admito que tenho raiva. Admito que eu não tenho dentro de mim (dentro?) só amor. E nem só ódio, apesar de que o amor e o ódio, como dizem por aí, são dois lados da mesma moeda.
Eu tenho mesmo muitas moedas. Se valessem como dinheiro, eu seria muito rica. Mas eu me sinto é um pouco pobre com as que tenho. A moeda da raiva eu só assumi como minha agora - isso se eu estiver mesmo assumindo.
hipocrisia mesmo, sempre achei absurdo não assumir.

hoje eu soube que a hora tinha chegado. hoje eu descobri que eu gosto da minha raiva. hoje, a raiva me é melhor que o amor.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

um chopp. três cigarros.
e, foda-se.

para deborah, pequenina grande amiga

sábado, 19 de abril de 2008

reguei todos os dias durante quantos dias?

A campainha nem tinha sido tocada. Eu abri a porta, e estava lá. Uma plantinha que, de início, nem me chamou a atenção pela beleza. Mas eu, receptiva que estava, trouxe-a para dentro de casa. Nem sabia que estava tão disponível para me envolver - com a planta.
Em uma semana nossas conversas já eram uma delícia. Pudor, então, nenhum. Falava de tudo e perambulava sem roupa. Às vezes, durante a noite, eu sentia que ela me abraçava.
Em um mês, a plantinha tinha uma parte enorme do meu carinho. Passei a acreditar na minha relação com a planta. Depositava expectativas e tudo mais.
Foi, então, que, aos poucos, ela parou de me abraçar durante a noite. Parou de me dar beijo-de-bom-dia. Parou de se deliciar conversando comigo - será que um dia foi uma delícia?
No começo, eu chorei.
O carinho, eu sabia - ainda estava lá.
Mas eu. Eu não sabia estar com a planta e não me sentir abraçada durante a noite.
Então eu me levantei. Peguei-a com as duas mãos, sem nenhuma firmeza. Sem nenhuma certeza do que fazia. Abri a porta. Deixei-a ali, do lado de fora. Se um dia, ela quisesse de novo.

terça-feira, 15 de abril de 2008

ver para crer

quem vê, não acredita.
eu vejo e não vejo.
ainda assim, acredito.
continuo?

falta-me

viciada. sou viciada em me expressar com clareza. e pretensiosa de querer falar tudo. imagine se tudo pudesse ser falado! fala, falo, falado, não falado. falta.
falar é uma das minhas graças. e talvez uma das minhas maiores desgraças. como é, às vezes, não falar.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

quem ou o que é

Não, não é você. Não, não é ele. Não é isso. Não, também não é aquilo. Nem aquilo outro. Não é. Eu sei o que é. Não quero falar. Porque eu não queria que fosse. Não. Eu queria que fosse, eu não queria é que fosse por isso que eu tô assim. Na verdade, mentira. Se eu não quisesse mesmo, com as forças das minhas profundezas, esse motivo não seria motivo para.
Mas é que - é Ele.

terça-feira, 8 de abril de 2008

mais uma dele

"Desta vez, foi ela quem esbarrou nele. Então ele olhou-a com aqueles olhos meio fatigados de quem está suportando uma noite extremamente chata, para ver uma moça que já tinha visto antes. Cabelos presos na nuca, blusa de seda preta, jeans arrebentados, uma moça com olhos de quem está suportando, na boa, uma noite extremamente chata, e só lembrou vagamente que a conhecia de algum lugar. Mas ela localizou naquele homem moreno, nariz descascando um pouco na ponta, exatamente o cara que tinha esbarrado nela na praia, só que de cabelos secos, vestido. Ela sorriu, porque tinha esses lances assim, meio provocantes, e disse:
- Agora estamos quites.
Meio pateta, como costumam ser os homens, em férias ou não, ele rosnou:
- Hã?
E quando ela pediu com-licença e ele se afastou um pouco foi que, vendo-a pelas costas, eretas demais, um tanto tensas, reconheceu a-moça-da-bóia e falou:
- Tudo bem?"

Típico.

Será?

"Mas eu quero mais é aquilo que não posso comprar. Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar. Diferente dessa gente toda vestida de preto, com cabelo arrepiadinho. Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e rídicula, só porque no meio desse lixo todo procuro O Verdadeiro Amor. Cuidado comigo: um dia encontro."

Será?

sexta-feira, 4 de abril de 2008

569

No ponto onde nunca passa o meu ônibus. Passam os minutos, as horas, as pessoas que vão para Estácio, os papos. Nada do meu ônibus.
Hora dessas - Estácio, Rua Alice, Rio Comprido, quem vai? - chega um moço. Três maços de cigarro - Derby - nas mãos. Afobado. "Estácio não, tô é esperando uma pessoa."
Enquanto eu esperava o ônibus, ele esperava a pessoa. Uma pessoa, não necessariamente a pessoa. Seria muita sorte a dele, esperar pela pessoa e ela de fato chegar.
Enfim, os dois demoravam. Pessoa e ônibus. Mas esperávamos.
"Não é possível, duas horas da Tijuca até aqui, Me ligou cinco da tarde, pegando o ônibus. Puta que o pariu! Não era pra ter chegado?"
Eu disse que era. Ainda mais com a fartura de 422 (Grajaú-ali onde estávamos) que víamos passar.
Ainda perguntaram se ele esperava por um homem. Eu tinha certeza mais do que absoluta que não.
"Homem?! Se fosse homem eu não tava mais aqui, não esperava cinco minutos! Não suporto esperar, também odeio quando ficam me esperando!"
Tentaram convencer que ele esperasse, porque, afinal de contas, mulher demora - se não demorasse, seria como marcar encontro com um homem.
Até que era paciente, o moço. Duas horas. Resolveu dar uma volta.
"Esperar eu sei que vou. Agora, enquanto."

terça-feira, 1 de abril de 2008

sim, citarei

Antes de qualquer coisa, acho que, pardon. Acho que, não tenho certeza, na verdade. Eu sei que a intenção primeira desse espaço (ok, blog, ainda não aceito muito bem o fato) é facilitar a leitura do que é meu. Só que me deu vontade de citar o que não fui eu quem escrevi. Então, pardon. Mas eu posso me explicar. Apesar de não serem de minha autoria, essas citações não deixam de ser minhas, de alguma forma. Primeiramente, porque sou eu quem as cito (piadinha!) e depois porque, apesar de não me pertencerem, elas pertencem à minha vida.
Taí, ainda bolei um textinho! Não será uma simples citação.
Aproveito para deixar um recado para vocês, frenquentadores assíduos do meu espaço virtual: comentem! Sejam livres para gostar (ou não) do que está escrito.

Fiquem, agora, com Caio Fernando Abreu. Por dois motivos: o primeiro deles é para que vocês se familiarizem com o meu momento. O segundo é para me lembrar de um certo alguém, de são paulo, de paris, e do samba.

"essa não continuação era a única espécie de continuação que vinha."

"Perdeu-se dele logo após encontrá-lo (...). Não sabia que ia perdê-lo, não sabia sequer que iria encontrá-lo. (...) Mas foi assim que aconteceu. Não estava um pouco bêbado, nem tinha fumado ou cheirado absolutamente nada - o que talvez justificasse, tantas negações, encontrá-lo assim, de repente e também perdido (...)"

"Eu sou os dois, eu sou os três, eu sou nós quatro. Esses dois que se encontram, esse três que espia e conta, esse quarto que escuta. Nós somos um - esse que procura sem encontrar e, quando encontra, não costuma suportar o encontro que desmente sua própria sina. É preciso que não exista o que procura, caso contrário o roteiro teria que ser refeito (...)"