sexta-feira, 27 de junho de 2008

sobre a fé (com ca)

café com pão, café com leite, café com jornal, café com ele, café comigo, café com gente, café com papo, café com frio, café com bolo, café com cigarro
café com tanta coisa!
a única forma de ter o café, quando eu quero, é bebendo. mas, beber o café, engolir o café, não esgota o meu querer-café. porque eu quero de novo, e de novo, e de novo, cada hora de um jeito - tipo sexo - a vontade nunca morre de vez. dá, passa, dá de novo, ufa, passou, e dá de novo e assim por diante.
e nenhuma das vezes que eu tomar café vou esgotar minha vontade. e eu, às vezes, penso "ainda bem". mas, outras vezes, penso outra coisa: se a vontade nunca vai ser realmente saciada, pra nunca mais voltar, nem adianta beber. posso tomar o quanto quiser, que, eventualmente, ela volta. mas, que idéia essa de acabar com a vontade!
o que seria de mim sem vontade?
pior: e sem café?

sexta-feira, 6 de junho de 2008

espelho meu, existe eu?

foi sem querer que, de repente, tinha um espelho na minha frente (eu, se tivesse um corpo, e se tivesse frente). e uma figura, devia ser meu reflexo. não reconheci, era um corpo estranho.
eram duas, as pernas. mas, eu, se tivesse um corpo, e se tivesse pernas, teria três. desconfio que um tripé me sustentaria melhor. talvez isso seja ilusão. mas eu sei que não sou o suficiente para viver só com duas pernas.
os olhos, eram dois, bonitos. não muito brilhosos, mas falavam só a verdade, talvez verdade demais. eu, se tivesse um corpo, teria um olho só. porque não adianta de nada ter dois. o segundo olho não ajuda a enxergar melhor. quando não se quer ver, pode-se ter quinze olhos - nada será visto. tem coisa que não se vê com o olho.
e a boca, o reflexo tinha uma. carnuda. eu, se tivesse um corpo, nem sei se teria boca. nem sempre se precisa de boca para falar. tantas vezes as bocas deveriam ficar fechadas. não sabem o quanto deve ser dito - quem sabe? mas, sem boca? sem boca não teria beijo. eu, se tivesse um corpo, não sobreviveria sem beijo. então, eu teria boca. talvez só para beijar.
um nariz. eu, se tivesse um corpo, teria só um mesmo. mais do que isso seria arriscado. tem muito cheiro ruim por aí.
tanta gente surda que tem duas orelhas. iguais aos cegos que têm dois olhos. eu, se tivesse um corpo, acho que poderia viver com uma orelha só.
mas, eu. eu sou um corpo estranho em mim.

então, para onde?

disse que não sabia desse paraíso. esse paraíso branco, leve, infinito, constantemente constante. disse que isso não era paraíso. a constância não é paradisíaca. paraíso é movimento, paraíso é inconstância, paraíso é a dúvida. paradisíaco é amar isso, não amar mais, amar outra coisa enquanto se sente tantas outras coisas, ao mesmo tempo, o tempo todo. quem vive o paraíso (sim, porque o paraíso não é um lugar, é um viver), sabe ser livre.
mas, se o paraíso é um viver - eu achava que morto fosse pro paraíso - acontece algum movimento depois da morte?
só se for morte em vida.
ah,
é. eu ainda preciso aprender tanto.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

pão meu de cada dia

às vezes, às vezes eu penso em desistir. desistir porque eu não sei enlaçar de um jeito, porque eu não sei olhar, porque eu não sei dizer tudo, não falar nada.
desistir porque mesmo que eu soubesse, nunca diria tudo (tudo o quê?). eu queria não querer dizer tudo, mas quero e talvez seja melhor desistir.
eu queria o toque singelo de uma mão macia de tão grossa.
eu queria beber sem engolir tudo de uma vez. queria saborear cada gosto, e cada textura. mas, se não é possível sentir tudo, melhor sentir nada? ou melhor não sentir?
não sei, não sei. sei que me ocupo demais padecendo. padeço porque quero sentir tudo, e viver tudo, e beber tudo. logo.
não aprendo que cada pedacinho do que eu imagino que seja "o todo", ensina uma coisa. uma coisa, que é diferente da segunda coisa, e da terceira coisa, e das coisas que vêm depois dela.
eu teimo em receber todas as coisas juntas, eu teimo, eu sei que fico perdida.
acho que vou experimentar tomar um gole.
será que posso?

terça-feira, 3 de junho de 2008

das diferentes formas de petiscar

- quando cheguei, fiquei desorientado. Eram tantas as formas, os cheiros, as cores, os tamanhos, imaginem o gosto! Fazer uma primeira escolha se aproximava do impossível. Logo soube que uma vez só ali não seria o suficiente. decidido - a primeira seria a coxinha. mas, mais moreninhas ou mais clarinhas?; as maiores ou as menores? pior: com ou sem catupiry? tinham algumas com presunto também, meu deus!
Acredite se quiser, a escolha foi feita. Escolhi uma incrível, dava água na boca só de olhar. Não resisti mesmo. Ótima escolha, foi excelente.
Na segunda vez, as coisas só podiam ser mais fáceis, já que do prazer das coxinhas eu já tinha experimentado. Seria menos uma dúvida. Só que tudo foi igualmente difícil, porque chegaram, junto com tantas outras opções, as pequenas esfihas. sequinhas, recém-saídas do forno, eram a novidade da casa. mas as coxinhas da primeira vez não paravam de passar. Realmente, eram ótimas. mas parecia que não entendiam que delas eu já tinha me dado por satisfeito. vieram os sanduíches, com aquela marquinha da chapa, toda desenhadinha...! não sabia o que fazer, fiquei louco. todos bem preparados, aparência impecável, um mais lindo do que o outro...

- pois é, meu amigo. não dá pra ficar escolhendo muito não, é muita opção mesmo. por isso que eu gosto de delivery, sabe?! eu como o que tá na frente, não tem outra coisa do lado que eu posso achar melhor. e depois, quando eu já estou satisfeito, não continua passando na minha frente, querendo saber por que é que eu não quero mais.

toca o interfone.
- alô?
- é a luisa.
- ah, pode mandar subir.


(agradecimentos especias para as queridas psicoléugas)