sexta-feira, 6 de junho de 2008

espelho meu, existe eu?

foi sem querer que, de repente, tinha um espelho na minha frente (eu, se tivesse um corpo, e se tivesse frente). e uma figura, devia ser meu reflexo. não reconheci, era um corpo estranho.
eram duas, as pernas. mas, eu, se tivesse um corpo, e se tivesse pernas, teria três. desconfio que um tripé me sustentaria melhor. talvez isso seja ilusão. mas eu sei que não sou o suficiente para viver só com duas pernas.
os olhos, eram dois, bonitos. não muito brilhosos, mas falavam só a verdade, talvez verdade demais. eu, se tivesse um corpo, teria um olho só. porque não adianta de nada ter dois. o segundo olho não ajuda a enxergar melhor. quando não se quer ver, pode-se ter quinze olhos - nada será visto. tem coisa que não se vê com o olho.
e a boca, o reflexo tinha uma. carnuda. eu, se tivesse um corpo, nem sei se teria boca. nem sempre se precisa de boca para falar. tantas vezes as bocas deveriam ficar fechadas. não sabem o quanto deve ser dito - quem sabe? mas, sem boca? sem boca não teria beijo. eu, se tivesse um corpo, não sobreviveria sem beijo. então, eu teria boca. talvez só para beijar.
um nariz. eu, se tivesse um corpo, teria só um mesmo. mais do que isso seria arriscado. tem muito cheiro ruim por aí.
tanta gente surda que tem duas orelhas. iguais aos cegos que têm dois olhos. eu, se tivesse um corpo, acho que poderia viver com uma orelha só.
mas, eu. eu sou um corpo estranho em mim.

4 comentários:

Isadora B Floriani disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Isadora B Floriani disse...

Nossa! eu postei outro dia alguma coisa ( não sei se é conto, histórinha ou blá blá blá) brincando com o jogo dos espelhos!!! hahaha.. essa tal de psicanalise não ta "fluina", só engordando o sintoma. :P

Eu li um livro, alias, estou lendo, que fala sobre o "tripé" da terceira perna, que fala disso que vc escreveu. ão sei se vc já leu " paixão segundo GH" da C.L.

Enfim.. troquemos figurinhas literárias...

Artur disse...

Bonito Dreba.
Achei legal as imagens com as partes do corpo.
Beijo!

Anônimo disse...

Deborah Tenenbaum em momento humanista-existencial:presa ao corpo que(não)lhe pertence.